A região do Parque Estadual do Caracol fez parte do território habitado pelos povos primitivos da “Tradição Taquara”, caçadores, coletores de frutos e sementes, cujos hábitos de construção eram peculiares em função das adversidades climáticas, risco de ataque de outras tribos e animais como as onças-pintadas.
Edificavam a base das residências circulares escavadas no solo, com até seis metros de profundidade, acesso por escadas móveis, tendo a cobertura cônica, formada com troncos revestidos com galhos, barro e folhas, objetivando controle térmico e segurança. Os habitantes originais chamavam esta região de “Terra de Onça Braba”, coexistindo com outros povos e com onças e pumas, em razoável equilíbrio ecológico, por milênios.
Chegada dos primeiros imigrantes
Em 1864 chegou o alemão Guilherme Wasen, primeiro imigrante da região, instalando-se no “Campestre Canella”, que ficava junto à Fazenda do Faxinal. Permanecendo pouco tempo no local, os Wasem migraram mais para o norte, onde haviam terras devolutas, conhecidas como “Caracol”. Receberam essas terras em doação do Império do Brasil e ali fixaram suas raízes, tendo como principal atividade o uso da terra para subsistência e economia familiar.
A partir de 1900 começaram a surgir hotéis e casas de veraneio, além de pequenos comércios e indústrias associadas à extração da madeira; concomitante, os índios foram sendo expulsos, assim como as onças, pelo risco e competição pelo mesmo alimento e espaço ecológico.
Os visitantes, atraídos pelas belezas naturais do local principalmente as matas nativas, os tons do verde, a água limpa, as cascatas, a temperatura amena e a diversidade de paisagens, mirantes e cânions, começam a traçar os caminhos turísticos que hoje consagram Canela como um dos principais roteiros do Estado e a Cascata do Caracol o atrativo natural mais visitado do sul do Brasil, após as Cataratas do Iguaçu, no Paraná.
Início da cidade de Canela
Na década de 20 inicia-se o ordenamento urbano atual e com a chegada da ferrovia, cresce o povoado junto a estação ferroviária, no centro da cidade, que passa a desenvolver-se de forma mais acelerada do que a localidade do Caracol, distante 8 km de lá.
Posteriormente, houve a implantação de uma fábrica de celulose nas margens do principal afluente do arroio Caracol, próximo ao centro, provocando alterações na qualidade da água, cuja poluição em muito contribuiu para a diminuição da procura pelo local por parte dos veranistas. Atualmente a empresa opera com rigoroso controle ambiental de seus processos produtivos e sem impacto direto no arroio Caracol.
Início do Parque
Em 1954, o governo Estadual decretou de utilidade pública a área de terras que se transformou, em 1973, no Parque Estadual do Caracol com uma área de 100 hectares, sendo 25,10 hectares efetivamente ocupados pelo uso intensivo do Parque com seus produtos e serviços, estacionamentos, cascata e campestres.
Do montante, 43 hectares após o arroio são destinados a Área de Preservação Permanente (APP) e refúgio de fauna que tem no parque um corredor ecológico, necessitando serem reconhecidas, cercadas, identificadas, legalizadas e protegidas.
Já a área desapropriada de Walter Martim Haetinger, com 32 hectares compreendendo o estacionamento, inaugurado com o parque, as casas de funcionários com frente para a RS-466, bem como a área de floresta nativa, reflorestamento de araucárias, até os arroios Cascatinha e Tiririca está destinada a expansão do parque, com novos produtos turísticos.
Na época em que a fazenda estava em atividade, tudo era movido a força hidráulica, através de uma turbina que, por gravidade, recebia água captada junto ao represamento do arroio, conduzida por aqueduto (vala de pedra de alicerce em basalto e cano de cedro anelado com ferro, construída em 1938) para alimentar a turbina gerando, de forma pioneira, energia hidrelétrica para casas e hotéis da região do Caracol, abastecendo também uma serraria e um moinho que produzia farinha no local.
A infraestrutura
A partir de 1954 quando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul decretou de utilidade pública as terras da fazenda de Pedro Nunes, onde se encontra a Cascata do Caracol, iniciou-se um gradativo aumento do número de visitantes ao local, fato que exigiu implantar infraestrutura e assim foram construídas a lancheria, o restaurante (1964), a portaria, os sanitários públicos, o estacionamento interno e o mirante da cascata.
Posteriormente nova portaria foi edificada, em madeira, e um estacionamento externo para coletivos foi criado próximo a entrada do Parque, melhor acomodando o grande número de ônibus sempre crescente. Atualmente o Parque recebe cerca de meio milhão de visitantes por ano.
A beleza cênica do local, formada pela Floresta de Araucárias e tendo como principal atrativo a cascata, foram pontos decisivos para a criação do parque. Todavia as formas de utilização das áreas naturais do local na época não obedeciam a critérios mínimos de conservação, deixando os ambientes expostos a impactos antrópicos, como a ocupação permanente por trailers de visitantes e suas churrasqueiras.
Em 1992 instalou-se no parque o Projeto de Educação Ambiental Lobo-Guará visando criar uma maior harmonia entre as atividades de preservação das belezas cênicas, da fauna e da flora e a utilização dos espaços pelos visitantes, trilhas e padronização visual das informações nos painéis das trilhas autoguiadas.
Uma antiga casa, residência dos descendentes dos Nunes e Wasem, construída em 1954, abrigou aquele Centro de Interpretação Ambiental, o qual se manteve em atividade até o início de 2007. O espaço continua sendo um ponto de visitação administrado pelo Município, chamado Centro Histórico e Ambiental.
A origem do nome
Como nos conta a história do local, em relação a origem do nome Caracol, surgiram três versões ao longo do tempo, sendo a formação de uma concavidade no paredão atrás da queda d’água, que lembra a concha de um gigantesco caracol, associada a queda d’água da cascata, a mais verossímil, sendo adotada pela percepção visual que mais significado traduz.
As demais versões são que o nome teria origem a partir da forma que o leito do arroio assume em determinados locais antes de chegar ao parque, que lembraria um caracol, porém não sendo possível ao visitante observar, por estar a montante do Parque, em áreas particulares e sem acesso.
Já a terceira opção era devido a uma flor, popularmente conhecida por Glicínia (Wisteria floribunda), de origem japonesa, que chamavam de Caracol, por ter sido introduzida primeiramente naquela localidade, na época em que as famílias Wasem e Nunes ali residiam, vindo a ser uma planta ornamental apreciada pelos moradores, alastrando-se por regiões vizinhas. Atualmente ainda existe próxima ao Centro Histórico e Ambiental.
Referências:
–CANELA por muitas razões – Pedro Oliveira, Marcelo Wasem Weeck, Antonio Olmiro dos Reis; Edições EST, 2ª edição, ano 2000.
–CENTRO HISTÓRICO AMBIENTAL PARQUE ESTADUAL DO CARACOL – CHAPEC.
–INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO DE CANELA – NOVEMBRO2018.
–RAÍZES DE CANELA – XI Encontro dos Municípios Originários de Santo Antônio da Patrulha; Pedro Oliveira, Verá Lucia Maciel Barroso; Edições EST, ano 2003.